" Dom Casmurro - Os desvãos da Memória Análise do Enredo
Na tentativa de 'atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescência', a releitura que o memorialista do engenho Novo faz do menino e do jovem da Rua de Matacavalos, revela a estrutura unitária, perfeita e completa de uma quadro psicopatológico, de um delírio de ciúmes, cuja trama era tecida por fios inconscientes, com raízes profundas.
' O resto é saber se a Capitu da praia da Glória já estava dentro da de Matacavalos", conclui D. Casmurro no último capítulo. Invertendo o raciocínio do memorialista, o que nos interessa é saber se o Bentinho da casa da D.Glória já continha dentro de si o esqusitão do Engenho Novo, a quem os companheiros do trem da Central davam apelidos depreciativos.
Em várias passagens de seus contos e romances Machado revela o entendimento, endossado pela moderna psicologia, de que criança é já um projeto acabado e a vida apenas o modela, cortando ou desenvolvendo alguns de seus aspectos. As forças psíquicas fundamentais, o amor e o ódio, a gratidão e a inveja, os impulsos de vida e os de destruição, eros e tânatos, têm suas raízes nas disposições genéticas. As condições do mundo exterior anulam, inibem favorecem ou tornam manifesta a matéria-prima humana. Com certeza, a mão do velho que redige as suas memórias já estava na do menino que armana e dasarmava os seus brinquedos. ' O menino é pai do homem', diria o defunto - autor Brás Cubas." Os livros da FUVEST/ UNICAMP I - OBJETIVO - São Paulo, 2006
